sexta-feira, 12 de junho de 2009

llena de puertas

Há mais ou menos um ano eu fui ao cinema ver Caotica Ana, do Julio Medem. Esse dia me marcou muito, porque eu havia acabado de entrar em contato com uma informação que mudou toda a minha vida - sem na prática mexer em nada. Foi nesse espírito que fui ao cinema: perturbada, confusa, fragilizada, com todas as janelas da minha alma abertas, quase uma revisita.

Não sei dizer como saí do filme. Sei que, até hoje, ele ecoa forte em mim. Ouvi muita gente dizer que achou uma porcaria, que se decepcionou com o Julio Medem (provavelmente quem foi esperando algo na linha de Lucia e o Sexo ou Os Amantes do Círculo Polar, obras-primas, sem dúvidas). Eu não me decepcionei nem um pouco. Achei o filme de um simbolismo muito bonito e pude ver no caos da personagem principal um pouco do caos de todos nós, com todos as nossas memórias, ancestralidades gravadas em cada traço. Ouvi muitos reclamarem, também, que era um "momento espírita" do diretor, já que o filme mostra a personagem principal mergulhando em vidas passadas - sempre parte de trágicas histórias de mulheres, há 20 ou 100 anos. A dor era a mesma, mudados os rostos e cenários que fossem.

Não acho que seja simplesmente um filme "espírita", pejorativamente falando, como ouvi e li tantas vezes. Minha leitura definitivamente não foi por aí. O fato de Ana ser todas aquelas mulheres não significa necessariamente que tenha vivido como cada uma em vidas passadas. Significa justamente isso: Ana é todas aquelas mulheres. Assim como eu sou, você é, basta abrir as janelas pintadas na parede da caverna. É uma leitura mais junguiana mesmo, pra ficar só aí. Estamos conectados, e por isso o passado não morre, não se acaba: somos o que vemos agora, mas também somos tudo o que foi, reelaborado, reordenado até a nossa totalidade. Quando entramos em contato com cada uma dessas partes, aceitamos o caos. Até reordenar novamente e sermos de novo inteiros.

Estou melancólica, é isso. E mais canceriana do que nunca. Deve ser o inferno astral. Pois que ando recolhida, sonhando com fênix douradas e rememorando aquela que fui em cada fase que passou. Não sem tristeza, não sem saudade, mas mantendo em mente que é preciso deixar morrer para ser novo. Ando duelando com a morte e ofertando flores a ela. Talvez por isso tenha voltado ao filme...termino o post com uma música belíssima cantada pela Cesaria Evora e pelo Pedro Guerra, que me arrebatou enquanto corriam os créditos. Tiempo y silencio.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

entrevista com o lan

O meu melhor amigo, Allan de Lana, é o entrevistado do mês da revista de arte "dando nome aos bois", projeto dos também artistas plásticos Matias Monteiro e Luciana Paiva. Na entrevista, ele fala do trabalho como diretor de arte no meu primeiro curta, Braxília, que ganhou até blog.

Vale a pena ler, não só pela referência ao processo de realização do filme, mas pelo mundo do Lan. Que é lindo e eu amo.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

viagem além do eu

Estou lendo com devoção A Descoberta do Mundo, coletânea de crônicas da Clarice Lispector. Comprei o livro há um tempo e estava lendo devagarzinho, em doses homeopáticas, envolvida que estava com as leituras do mestrado e com o filme. Agora continuo enrolada, mas assumi para mim mesma que doses diárias de Clarice me são absolutamente necessárias, no sentido de não me deixar distanciar da minha capacidade de contar historias e vê-las onde elas se escondem. Isso além de equivaler a uma boa sessão de terapia.

E não é que, depois que comecei a ler as crônicas antes de dormir, dei para ter sonhos ainda mais cheios de símbolos? No último, eu estava no alto de um rochedo duelando com um oponente que não sei se era homem, mulher ou a morte. Instruída pelo Igor, que no sonho era uma espécie de guru, utilizei como arma uma flor cor-de-rosa, dessas que a gente sopra e espalha pelo vento. Ele me entregou a flor como sendo a senhora do tempo. Assim soube de sua força. E foi assim que ganhei, num jogo em que meu oponente tinha de escolher entre a flor senhora do tempo e um punhado de plumas azuis. Como ele escolheu as plumas, eu venci.

A ante-sala do meu duelo era uma sobreposição de cartas douradas, gigantes, com desenhos de figuras mitológicas. A carta que estava ao meu lado, do meu tamanho, tinha a imagem da fênix. Mas não sei por que novamente Clarice me trouxe até aqui. Acho que é porque a relaciono profundamente com uma boa viagem além do eu, ao menos assim ela é para mim. Abrir as portas para sonhos reveladores assim só podia mesmo ser coisa da bruxa.

jasmim

Descobri, lendo uma das crônicas, que Clarice também gostava de jasmim. Diz assim:

"Depois voltarei ao mar, sempre volto. Mas falei em perfume. Lembrei-me do jasmim. Jasmim é de noite. E me mata lentamente. Luto contra, desisto porque sinto que o perfume é mais forte do que eu, e morro. Quando acordo, sou uma iniciada."

Que percepção bonita, sentir-se iniciada por um cheiro, uma flor. Ser uma iniciada, acredito, é passar para um estado de aberturas, em que um perfume pode ser o mergulho, a morte e a vida. Todas palavras-chave da poesia. Acordar uma iniciada é entregar-se ao desconhecido, sempre ele, abismos a nos perseguir. Pode ser uma música a nos levar nesse pacto de pertencimento, uma pessoa, uma imagem...ou o perfume de jasmim.

Eu me apaixonei por esse cheiro ao andar pelas ruas de Buenos Aires, enfeitadas por delicadas bancas de flores. Um dia cheguei em casa - que afago poder chamar assim um apartamento alugado por dez dias! – e encontrei um buquê de jasmins sobre o travesseiro. Surpresa do Igor, flâneur que traz bancas de flores nos olhos. Fui iniciada. Para nunca desiniciar, levo comigo um perfume com notas de jasmim chamado Cinéma, maravilhoso. E junto, claro, minhas ruas imaginárias entre o mar e a noite.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Wado e o Terceiro Mundo Festivo

Uma das boas surpresas desse fim de semana foi o som do Wado. Fiquei sabendo do show por uma amiga, que me mandou um e-mail perguntando se eu gostava. Eu nem conhecia. Depois de sondar no My Space, lá fui eu para o show no Cafetina. Há muito eu não ouvia uma mistura musical tão interessante...o cara passa por samba, funk, uns baticuns de maracatu, reggaeton...lendo essa definição, deve parecer que se trata de um samba do crioulo doido, e é isso mesmo. Wado é samba do crioulo doido da melhor qualidade, perfeito pra dançar a noite toda sem ver o tempo passar. Não quero escrever mais. Tudo além disso é sentido. Deixo aqui um video para experiencia estética dos meus amigos leitores e recomendo esse catarinense alagoano do mundo. Visitem o site dele e baixem os CDs. Tá tudo lá.

terça-feira, 2 de junho de 2009

as tempestades, os homens e os deuses

Minha ficha ainda não caiu direito sobre esse vôo da Air France. Passei o dia meio esquisita, aperto no peito, um choro guardado pelas pessoas tantas que eu não conhecia. A verdade é que uma tragédia como essa mexe demais com a gente, nos coloca diante da nossa fragilidade e faz pensar que qualquer um de nós poderia estar ali. Presos numa gaiola a mais de 30 mil pés, sobrevoando o infinito do mar, ao encontro de uma tempestade dessas que nem os poetas, nem as visões de estamira, nem os deuses todos poderiam invocar. Eu não tinha medo de avião, até que me vi trabalhando na Globo na época do acidente com o boeing da Gol. A cobertura do acidente mexeu demais comigo. Ter de ir até o hotel entrevistar os parentes no auge da dor da perda, acompanhar as buscas pelo que restou das pessoas, tudo isso foi muito dolorido pra mim. Na época eu não consegui chorar, acho que ainda tentava separar o pessoal do profissional: me concentrei tanto em fazer um trabalho digno, respeitoso, que nem olhei para o que sentia.

Percebi o quanto de tristeza eu tinha guardado quando aconteceu o acidente com o avião da TAM, que explodiu em Congonhas. Me lembro de ter saído para uma aula de dança quando o Jornal Nacional mostrou as imagens do avião pegando fogo, com a ressalva de que o avião devia estar vazio no setor de cargas. Fui para a aula aliviada. Quando estava voltando de carro pra casa, ouvi no rádio que o avião estava cheio. A imagem daquele avião em chamas imediatamente me veio à cabeça e eu não consegui segurar meu choro. Parei o carro num posto de gasolina e chorei muito por aquelas vidas todas. Fiquei um longo tempo ali, em silêncio. Ao chegar em casa com os olhos marejados, ouvi: "minha filha, você tem que ter autocontrole, você é jornalista!".

Desliguei o modo "jornalista" e deixei ligado, assumidamente, o modo "humana". Hoje me permito chorar. Estou aqui, às 2h30 da madrugada, vendo vídeos do maestro Silvio Barbato, que estava no vôo da Air France. Acho que cheguei a entrevistá-lo no JB, não lembro ao certo. Sei que o sorriso dele, o talento dele e sobretudo a paixão pela música me são familiares, me soam antigos como os primeiros sons. Vi também outra artista de Brasília, Juliana, que estava no avião. Não a conhecia, mas o vídeo que vi sobre ela no correioweb mostra a mesma paixão pela música, a mesma fagulha. Um golpe de uma só vez na arte e na vida, esses grandes princípios da poesia.

macabéa revisitada

Mas quero escrever sobre a dentista que me atendeu hoje, uma mistura de Macabéa com Clarice, criatura e criadora assim juntas de uma forma um tanto peculiar. Eu preciso contar sobre essa mulher, sob o risco de não conseguir dormir. Eu sonhei com ela na noite anterior à consulta. E no sonho uma amiga me alertava sobre ela, dizia para eu ter cuidado. Eu acordei cabreira, mas fui ainda assim. Chegando no consultório, uma senhora de jaleco branco veio atender a porta em passos vagarosos. Tive dúvidas se era a própria dentista ou uma secretária flicts, quase uma mudança de cor, como a Macabéa. Deduzi que era a dentista. O mais interessante é que a sala dela, para mim, era a sala onde Macabéa trabalhava. Havia vasos de plantas e samambaias penduradas pelos cantos. Macabéa teria uma samambaia, eu sei disso porque ela me falou. Também havia um quadro de Jesus Cristo na parede e um móbile azul de furtivas lacrimas. A mesa onde ficam os instrumentos era também azul, aquele azul clarinho da geladeira que com certeza sua mãe também teve nos anos 70. E as indicações eram todas em ponteiro. A lâmpada também era algo retrô. É, a sala tinha um quê de Adeus, Lênin!. E eu deitada na cadeira sem conseguir tirar os olhos daquela mulher. Passeei por seus cabelos ralos, avermelhados. As mãos eram pontilhadas com as mesmas manchas que Macabéa teria caso a sua hora da estrela tivesse esperado um tanto mais para chegar. Um rosto de poucos movimentos, nenhuma maquiagem, as unhas bem cuidadas. Ela falava como a Clarice na entrevista à TV Cultura, o mesmo enrolar de língua que tornava as palavras todo um mundo possível. Ela me explicava sobre as formas de respirar melhor e eu a via falando, bem devagar, "é que eu escrevo simples". Me pus a imaginar seus pequenos prazeres. Comer cachorro-quente com coca-cola? Escutar a Rádio Relógio? Parafuso e prego? Escrever livros? Moldar próteses nas bocas alheias e guardá-las, milimetricamente organizadas no armário baixo? Eu acho que ela esconde um infinito de bocas naquele armário. Bocas que são também o que ela guarda das pessoas, antes que elas fujam, como eu fugi.

Casi Razón

# 51

Nos fatiga más y más la poesía a medias, la poesia donde no se juega íntegramente el poeta, en todos los aspectos de la creación. La poesía a medias es el peor enemigo de la verdadeira poesía, como el hombre a medias es el mayor adversario del hombre. Tal vez ocurra lo mismo con todo cuanto es a medias, en relación con lo que es o trata de ser: Hasta el fracaso exige una integridad, especialmente en poesía.

Roberto Juarroz, em Casi Razón (Fragmentos Verticales, Decimocuarta Poesía Vertical)

segunda-feira, 1 de junho de 2009

desoperadoras de telefonia móvel


Há mais ou menos um mês, portei meu número da Brasil Telecom para a TIM. Eu era cliente da BrT há anos, desde que ela surgiu, e até então achava que ela era a pior de todas. Ok, eu já havia passado pela VIVO e rompido a fidelização em uma batalha no Procon, porque minha conta vinha errada todo mês...mas isso era tão passado que eu só pensava em quanto a Brasil Telecom deixava a desejar. O serviço de atendimento era péssimo, eu nunca ganhei nenhum desconto nem celular novo, e olha que minha conta sempre vinha entre 150 e 200 reais...nem um celular meia-boca me ofereceram - e minha mãe, que tem um gasto de 50 pila e olhe lá, recebeu uma ligação oferecendo um celular novo! Isso sem falar que meu namorado é Tim e as ligações ficavam bem carinhas de uma operadora pra outra.

Eis que, enfurecida por todas essas coisas, fiz a pior besteira dos últimos tempos e mudei pra Tim. Ganhei um celular bacaninha - considerando que o meu era jurássico -, um desconto integral da mensalidade por três meses e fiquei feliz, crente que estava abafando. Aí começa o drama quando chega a primeira conta. Conta?? Mas não ia ser de graça por três meses? Pois é. A Tim deu uma de joão-sem-braço e me cobrou o valor "proporcional" ao número de dias que eu estava com eles. Começou aí a minha via crucis. Liguei pra eles no dia do vencimento da conta pra reclamar. A atentente me disse que o sistema estava fora do ar (!), mas que eu podia ficar tranqüila que estava errado mesmo. Massa. Anotei o nome da sujeita e o número do protocolo, que eu não sou besta nem nada. E relaxei. Até que, ontem, recebi uma mensagem cobrando a "dívida". Ahm??

Tentei hoje ligar outra vez. Primeiro do celular, porque é o único número fácil de achar no site e na conta. Liguei *144 e ouvi aquelas opções irritantes...coloquei tudo direitinho e eis que, quando encontro a opção do "atendente", a ligação cai. Ok. Respira fundo e liga de novo. Mesma coisa. No terceiro número de protocolo, fui atendida. Comecei desabafando sobre o atendimento, disse que era a terceira vez que ligava e blábláblá...e eis que percebo estar falando sozinha! A criatura me transferiu na maior cara dura, sem dizer palavra...ainda esperei um tempo a musiquinha, mas caiu de novo. Fiquei puta e fui caçar o 0800 no site, pra ligar do fixo, que pelo menos não cansa tanto ficar segurando. No quinto nº de protocolo eu consegui e já cheguei perguntando pro Rodrigo - nome do atendente - se ele não ia desligar na minha cara. Ele garantiu que não e eu contei toda a história. Ele veio com uma conversa mole de que eu só tinha desconto por um dia (ahm?) e eu, que tinha o contrato em mãos, provei que não tinha nada daquilo...15 minutos depois, consultando os dados, ele diz: "realmente tem que fazer essa retirada pra você, Danyella". E puf, transfere!! Mas transfere pra quem, meus deus??? Mais alguns minutos de música e a ligação caiu, junto com a minha paciência.

Decisão da noite: não vou pagar essa conta, definitivamente. Também não vou ligar de novo pra procurar saber nada. E eles que me prendam se forem capazes ;)

18 dias no Japão

Foram 18 dias de sonho e muitas caminhadas pelo Japão. Começamos por Tokyo, onde ficamos por 4 dias. A ideia era entrarmos em contato com c...