sábado, 25 de junho de 2011

Cavalleria Rusticana II (ou pequeno manual de etiqueta para espetáculos e afins)

Aproveitando a postagem anterior sobre a ópera, vou fazer um breve desabafo sobre a falta de educação das pessoas. Para mim, teatros e cinemas são locais sagrados, que pedem um outro tipo de conexão consigo e com o outro. Então mesmo eu, que sou uma criatura acelerada, desligo o celular e assumo o pacto: vou ficar duas horas em uma sala escura, em contato com o que aquele espetáculo estiver propondo para mim. Salto no vazio. Às vezes o espetáculo te coloca não num nível de introspecção, mas de euforia - ainda assim é possível manter o bom senso. Aliás, taí uma coisa que podia vender na farmácia, né não? O mundo ia ser tão melhor! Enquanto não inventam a pílula da sensatez, seguem algumas dicas para a galera que adora desconcentrar os outros:

1) Crianças pequenas: 
A não ser que seja um filme ou peça infantil, não leve sua cria. Deixe com os seus pais, seus irmãos ou um grande amigo de confiança, mas não leve. Se não tiver jeito e você precisar levar, senta no canto, perto da saída - assim, se a criança ficar inquieta e abrir o berreiro no meio da ópera, por exemplo, você pode sair sem stress e salvar a noite do resto da plateia que não pagou para ouvir choro e grito de criança competindo com as sopranos. Nada contra a criançada se conectando com a arte e com a ópera desde cedo. Beleza, é incrível pra formação mesmo! Mas lá na sua casa, ok? Na maioria das vezes, se o espetáculo não for apropriado para a idade, a criança não aproveita mesmo e acaba se entediando com a duração. Então não inventa.

2) Celulares
Depois da comprovação de que existem mais celulares e smartphones do que gente, a coisa ficou meio difícil de controlar. O negócio é uma ferramenta útil de comunicação e tal, mas existem algumas regras básicas. Tipo: desligue o celular ou coloque no silencioso, por favor. Ninguém merece telefone tocando no auge de um show ou peça, enfim. É falta de respeito com quem está em cena e com os coleguinhas que estão assistindo. Certa vez, fui a um show do Jorge Drexler no CCBB. Um celular tocou bem no meio de Al otro lado del rio, que o cara estava cantando a capella, todo concentrado. Quebra clima total, né? Nem precisa dizer. Já sabe: celular no silencioso ou desligado.

Mesmo se você optar pelo silencioso, não fique mandando mensagem com o celularzão brilhando no meio da sala escura. Se você for mulher, tenta digitar com ele dentro da bolsa, pra luz não incomodar a galera. Se for homem sem carteira sem lenço e sem documento, abaixa o celular e dá uma digitada discreta, ok?

3) Câmeras fotográficas
Esse é um tópico que está diretamente ligado com o anterior, dada a convergência tecnológica. Celular com câmera também é arma nesses casos. Primeira coisa: verifique se é permitido fotografar durante o espetáculo. Geralmente a produção avisa antes. Então temos aqui dois cenários: 

3.1) é permitido fotografar - maravilha! Coisa linda de Deus! Se joga e acredita! Mas primeiro veja direitinho se o flash está desligado. Quer coisa mais irritante do que um bando de flash disparando ao mesmo tempo, quase cegando o ator e quem está em volta? Desliga o flash. É fácil. Costuma ser um raiozinho. Aí você escolhe a opção que tem um raiozinho com um PROIBIDO em cima dele. Ah, aproveita e tira também o som do disparador da sua câmera. Dá um pouco mais de trabalho que o flash, mas é de muito bom tom. Isso evita aqueles apitinhos chatos antes de qualquer fotografia. Acredite, isso também incomoda. 

3.2) Não é permitido fotografar, mas é o show da sua vida - o que vou falar aqui parte da minha experiência pessoal, porque já fiz isso no show do Drexler. Nesse caso, não vale a pena ficar se lamentando o resto da vida porque foi certinho e perdeu aquele momento decisivo, né? A vida é uma só. Então vai lá, tira a câmera discretamente da bolsa e faça algumas poucas fotos (sem flash nem apito nem luz infravermelha nem nada do tipo), com cuidado para não chamar atenção. Nada de ficar disparando um zilhão de fotos, que nem uma desembestada. 

Para câmeras, além do bom senso, tenho uma outra dica: deixe as fotos um pouco de lado e curta mais o espetáculo. Pense que aquele durante não vai voltar, mesmo que as fotos possam te ajudar a recordar.

Ok, fui um pouco ranzinza nesse manual-desabafo, né? Eu sei. É que ontem percebi como essas coisas me incomodam! As pessoas se acostumaram tanto a assistir a filmes em casa, nos dvds, que acham que todo lugar é a extensão da sala delas. Conversa alta, farofada, fotos, pezão quase encostando na orelha de quem está na cadeira da frente. Então começo aqui a campanha "você não está na sua casa". Quem quer aderir? ;)
 




Cavalleria Rusticana I

Ontem fui assistir à ópera Cavalleria Rusticana, no Festival de Ópera de Brasília. Além de ver um espetáculo desse tipo pela primeira vez, o que já era por si só emocionante pra mim, ainda tive a chance de ver um amigo querido no palco, como parte do coro.

A ópera foi linda em todos os sentidos: cenário, música, história, envolvimento dos cantores-atores...linda mesmo. E o Aristótenis me emocionou muito. Muito bonito ver a dedicação dele à música. Para contextualizar: ele é médico, gastro e cirurgião especializado em redução de estômago. Tem verdadeira paixão pela medicina. É capaz de discorrer por longos minutos sobre a beleza da medicina, numa mesa de café. Acho curiosa a poética que vem daí: Aristótenis soma a essa paixão o gosto pela música. É um ótimo violinista e também estuda canto lírico. Um tenor que maneja um bisturi com a mesma poética de um arco de violino, embora os movimentos peçam forças e estados de espírito diferentes. Há algo que conecta essas atividades, para ele. E só ele sabe o caminho. Que é bonito de se ver, ah, isso é! Inspirador! Ah, esqueci de falar que ele é casado com minha amiga do coração, a Moema. Isso também faz dele mais bonito :) Sabe aquela canção que diz "seu olhar melhora o meu"? Então. Embora eles sejam aparentemente bastante diferentes, a arte os conecta e é a forma deles aprofundarem o contato com a saúde/vida (ela é psicóloga, artista plástica e amante dos cafés e aromas e memórias).

Bom, essa aqui foi minha declaração de afeto a eles. 

E o registro de uma noite especialmente bonita, mesmo. Deveria haver mais óperas em Brasília. Não só dentro de um festival que acontece com sei lá qual frequencia. Onde esses cantores maravilhosos todos e esses instrumentistas ficam o ano todo? Que palco os acolhe? Fiquei me perguntando isso a noite toda. O Teatro Nacional ficou lotado durante o festival e soube que os ingressos para os dois dias da Cavalleria chegaram a se esgotar em dez minutos. Então, há publico ou não há? Acho que o que falta é boa vontade política mesmo, investimento...aí voltamos para a grande discussão da falta de um olhar mais generoso para a cultura, de forma geral. Há vários setores que carecem de espaço - o cinema é um deles, e eu bem sei. Então vamos aos poucos fazendo a nossa parte, rompendo espaços aqui e ali, espalhando a arte de qualquer maneira, enquanto quixoteamos por dias melhores.




18 dias no Japão

Foram 18 dias de sonho e muitas caminhadas pelo Japão. Começamos por Tokyo, onde ficamos por 4 dias. A ideia era entrarmos em contato com c...