terça-feira, 26 de janeiro de 2016

A arte de ressignificar o Natal num país diferente

Como diria Simone, a cantora por muitos anos onipresente nos lares brasileiros durante o mês de dezembro: então é Natal. Pois é. Aqui nas Filipinas, no caso, é Natal desde setembro. Sim! Não tem CD da Simone, mas tem canções natalinas tocando alucinadamente em todas as lojas e shoppings desde o primeiro mês com a terminação “- bro”. Setembro, outubro, novembro e dezembro. Quatro meses de intenso espírito natalino. Quatro não, cinco, porque a decoração vai até janeiro. Quem não gostar de Natal terá muitos meses de “sofrência”. Como eu gosto, confesso que me divirto com a empolgação filipina com a data.

Este será o segundo Natal que passo aqui. Agora já sei como a banda toca e, por isso, estou mais tranquila. No ano passado a experiência foi meio tensa. Isso porque eu, que estava aqui há apenas dois meses, queria porque queria reproduzir o meu Natal do Brasil em Manila. Eu sonhava com uma ceia como a que eu costumava ter em casa com a minha família. Queria a rabanada. O chester. As castanhas. Hoje, com o distanciamento temporal, eu percebo que eu queria mesmo era o conforto do que me era conhecido ao menos na ceia de Natal. Eram tempos de muitas transformações e fragilidade: gravidez, mudança, saudade. Que ao menos meu chesterzinho, minhas nozes e minhas cerejas estivessem ali!

Saí em busca dos ingredientes para a ceia. Encontrar um peru de Natal foi uma missão impossível. Deve até ter por aqui, mas eu, que estava em Manila há pouquíssimo tempo, ainda não tinha nenhuma dica quente para salvar a pátria. Lembrei-me do chester.  Também não achei em nenhum supermercado. Só encontramos uns presuntinhos caramelizados estranhos. Resignados, fomos de presunto mesmo, com aquela mentalidade “é o que tem pra hoje”.

Nossa primeira ceia de Natal nas Filipinas: resistência à cultura local.


As castanhas aqui estão pela hora da morte! Compramos um pouquinho, só pelo conforto espiritual mesmo. Nozes, amêndoas e pistache. Ah, sim, há algo que eu preciso dizer. Esqueçam aquelas prateleiras lotadas de castanhas que vemos nos supermercados brasileiros. Por aqui encontramos apenas castanhas enlatadas, tipo petisco de festa. Horríveis, mas estava valendo. Garimpamos também umas cerejas. Preparamos arroz com amêndoas, cuscuz marroquino e salada. Para a nossa primeira ceia longe de casa, estava ótimo! Recebemos uma amiga filipina e falamos com a nossa família pelo Skype.

Uma coisa que me ajudou muito a sair do sentimento "no Brasil é tudo melhor" e a me conectar com a cultura local foi a visita que fizemos a uma instituição de caridade em Antipolo, que fica numa província bem próxima. Fomos com dois amigos brasileiros que já moravam aqui há mais tempo e conheciam o padre responsável pelos projetos sociais por lá. Esses amigos, aliás, nos inspiraram demais na abertura afetiva para as Filipinas. Participamos de uma festa de Natal com as crianças e foi uma injeção de ânimo. Saímos de lá revigorados e felizes. Vi o quanto as minhas castanhas eram insignificantes. Danyella, você está em outro país! Acorda, criatura!


Crianças na celebração de Natal em Antipolo


Neste ano, vejo que já estou bem mais aberta à cultura filipina. É bem provável que a gente asse um lechon, que é o prato típico daqui servido nas ceias natalinas. Agora que tenho um grupo de brasileiras incríveis para chamar de amigas, vou propor um monito monita, como é chamado o amigo oculto por estas bandas. Confesso que estou vendo beleza na decoração antecipada e já consigo identificar o que é característico do país, como as belas estrelas penduradas nas fachadas dos prédios, conhecidas como parol.

Nossa árvore com o simpático Papai Noel Filipino, de roupa típica e parol na mão


No parque aqui perto de casa, certamente iremos curtir o festival de luzes organizado todo ano e que atrai centenas de visitantes. Acho bonito. Em uma cidade em que a vida parece girar em torno de shoppings, principalmente no Natal, os filipinos saem de casa simplesmente para contemplar. E, claro, postar nas redes sociais! Afinal, estamos na Ásia. Entre os milhares de paus de selfie, vai ser divertido ressignificar o Natal, sobretudo com a presença do nosso filhote fora da barriga. A todos vocês, meu desejo é um fim de ano com a alma mais leve e aberta para o novo, como a minha neste segundo Natal nas Filipinas.

Festival de Luzes no registrado pelos filipinos, que adoram tirar fotos para redes sociais
Maligayang Pasko! Feliz Natal!

*Texto publicado originalmente no site Brasileiras pelo Mundo em dezembro de 2015.

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